A ERA DO ILUSIONISMO
Decodificar o discurso de Jair Bolsonaro é simples, basta olhar para a direção contrária do que ele fala, porque é um diversionista e seu governo é o puro reflexo disso, como deixou bem claro o então sinistro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, naquela esdrúxula reunião ministerial no Palácio do Planalto, em abril do ano 2 da era bozozóica quando, cinicamente, defendeu que aproveitassem as atenções do povo e da imprensa focadas na pandemia do novo coronavírus para “ir passando a boiada, e mudando todo o regramento (ambiental), e simplificando normas”. O desenho tático feito por Salles na ocasião tem sido seguido à risca e, mesmo estando manjado, o truque ainda funciona. E a Amazônia saqueada pela exploração madeireira ilegal, pela garimpagem “artesanal” escancaradamente financiada por “forças ocultas”, e pela invasão às terras indígenas está aí para provar.
O QUE SE QUER E NÃO SE DIZ
Esse ataque brutal à Zona Franca de Manaus em pleno carnaval, que ninguém se iluda, não visa apenas estrangular o modelo reduzindo drasticamente uma de suas maiores vantagens comparativas, que é a isenção do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados. Acabar com a ZFM é um sonho de consumo do sinistro Paulo Guedes, o “Cérebro” do Planalto, e disso não há dúvida porque ele sempre escancarou essa vontade. A questão, entretanto, são os desejos recônditos, os atos sob as cobertas, as verdades (quase) secretas.
NEM TUDO QUE RELUZ…
Até o fato de que essa redução do IPI interessa à revitalização da indústria nacional porque desonera a produção é uma meia verdade e ninguém tem coragem de dizer para não ferir suscetibilidades e “colocar o Amazonas contra o Brasil”. O problema brasileiro é a estrondosa incompetência gerencial do governo central, que vem empurrando o País para uma recessão econômica nefasta. Gente desempregada, endividada e passando fome não consome nada a não ser comida, e quando pode. Então, baratear custo de produção sem uma política econômica equilibrada, socialmente justa e produtivamente eficiente é igual a nada, pura conversa para boi dormir.
CONHECEREIS A VERDADE…
O pano de fundo dessa coisa toda, de bate-rebate, de disse-não-disse, de esculacho daqui e dali, de me procura que converso, de me convida que eu falo e daí por diante é bem nítido: a legitimação do discurso pela exploração dos recursos minerais em terras indígenas, do avanço desenfreado sobre os recursos naturais da Amazônia para o enriquecimento de alguns poucos, porque ao povo restará a fome imediatamente após a ilusão do El Dorado. Lembram-se das boiadas do tal Salles?
…MAS ELA VOS ESPANTARÁ?
“Com a guerra Rússia-Ucrânia, hoje, corremos o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço. Nossa segurança alimentar e agronegócio (economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância.” – Jair Messias Bolsonaro em sua rede social, candidamente defendendo a “exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas”, como está em um projeto de lei de 2020 que, “uma vez aprovado, resolve-se um desses problemas”, no dizer dele.
ESTAMOS AQUI CARINHOSAMENTE
Nesta Quarta-feira de Cinzas saiu a carta a ser enviada ao presidente da República rogando pela revisão do decreto de morte da ZFM. Vai assinada pelos poderes Executivo e Legislativo de Manaus, pelo Legislativo Estadual e pela Associação Amazonense de Municípios (AAM) representando o interior do Estado, além de toda a bancada (três senadores e oito deputados federais) do Amazonas no Congresso Nacional e de entidades representativas da indústria e do comércio. O tom é didático, ameno e de apelo humanitário mesmo. Todo cuidado é pouco para não enfurecer um elefante solto dentro de uma loja de cristais.
TÔ NESSA NÃO, CIDADÃO
É de se registrar, mais uma vez, que a gravidade da situação foi muito bem entendida por quase todos os atores políticos com mandato do Amazonas, afinal sentaram-se à mesma mesa do prefeito de Manaus aos senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores da capital, além dos prefeitos dos 61 municípios interioranos, por meio de sua representação oficial. Mas faltou um, e justamente o governador do Estado, que não participou das discussões e nem assinou a carta. Coisas do coração, talvez, pois os tempos eleitorais são sempre de paixões ardentes, desenfreadas e até despesperadas. E como bem disse o filósofo e escritor francês Blaise Pascal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece.”
LA BELLE SUR SCENÈ
Mudando um pouco de cenário, quem primeiro apareceu na propaganda partidária que voltou à TV e ao rádio neste ano foi a defensora pública Carol Braz, no intervalo do Jornal Nacional, ao lado das principais lideranças femininas do PDT e do pré-candidato do partido à Presidência da República, o ex-governador do Ceará e ex-ministro da Economia Ciro Gomes. Uma exposição altamente positiva para quem é, até o momento, a única mulher na corrida para governar o Amazonas.
LARGADA AGENDADA
E a candidatura (ou pré-candidatura, conforme diz a legislação eleitoral) de Carol Braz será a primeira apresentada oficialmente, porque já tem um partido para chamar de seu, enquanto ao menos dois de seus futuros oponentes ainda não sabem por quais legendas disputarão. O ato de lançamento da candidatura está agendado para o dia 17 deste mês, com a presença do próprio Ciro Gomes, do presidente nacional do PDT, Carlos Luppi, e das lideranças partidárias locais, naturalmente.