FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
1995 – 2002
Fundado em 1988, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), cujo símbolo é a figura de um tucano, tem raízes numa dissidência do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Embora seja o mais novo dos grandes partidos brasileiros, tem rápida ascensão e, em aliança com agremiações conservadoras, elege Fernando Henrique Cardoso para presidente da República em 1994 e 1998.
ESQUEÇAM O QUE ESCREVI
O professor Fernando Henrique Cardoso nega que tenha dito tal frase. Seus críticos juram que se ele não falou, na prática, abandonou todas as suas teses acadêmicas marxistas, o que daria no mesmo. O fato é que para enfrentar o líder popular Luiz Inácio, a social-democracia aliou-se com a direita representada pelo PFL, hoje Democratas. Um fenômeno que iria se repetir com o PT e o Partido Liberal, para a eleição de Lula. O professor da USP, um dos grandes sociólogos brasileiros, líder da esquerda intelectual, avançou para o centro e montou no cavalo do Plano Real, que o levou para a Presidência da República e o reelegeu. A oposição rotulou-o de neoliberal, entreguista, privatista militante, vendilhão de bens nacionais e por aí vai. No seu pé estava o Partido dos Trabalhadores, afinado para fiscalizar cada movimento do governo, denunciar as (supostas) falcatruas e impedir que o capital internacional aterrissasse na Terra de Santa Cruz. Era a cruzada do Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade. FHC era o único candidato capaz de impedir a vitória de Lula, e por isso ganhou o apoio da direita, que via no sapo barbudo uma ameaça à sociedade de consumo e de livre-mercado que se instalava no Brasil. Nada de um socialismo que nem o PT em duas décadas de existência jamais conseguiu definir. O bordão preferido é que o Brasil não poderia perder o bonde da história. O fato é que outros países já viajavam de trem-bala havia muito tempo, e bonde era coisa de museu. FHC introduziu a prática dos preços estáveis, uma coisa que duas ou três gerações de brasileiros desconheciam. Nasceram e cresceram ao sabor da inflação, a ponto de desconhecer o que era preço relativo. Com grande inflação, o povo escolhia um produto ou porque era muito barato ou muito caro. Na verdade, ninguém sabia. O Plano Real construído no governo anterior, pelos economistas e administradores convidados, foi capitaneado pelo então ministro da Fazenda, o professor Fernando Henrique. Debaixo de uma saraivada de críticas, principalmente do PT, que dizia que os produtos tinham sido congelados no pico do preço e os salários, na baixa, o Plano acabou com a inflação e impôs uma nova política econômica, fiscal e cambial que teria como destino levar o Brasil a um crescimento sustentável. Será?
FHC
A aliança entre os tucanos, social-democratas, e o Partido da Frente Liberal, formado de políticos conservadores, muitos apoiadores do regime militar, proporcionou a vitória do ex-professor da USP, o respeitado sociólogo Fernando Henrique Cardoso. O que causou surpresa foi um intelectual de esquerda virar para o centro e ser duramente criticado pela oposição, principalmente pelo PT, de ser um neoliberal e de ter um programa de governo que não contemplava o social. As críticas chegaram mesmo ao slogan Fora,FHC, o que foi interpretado como uma tentativa de golpe contra o presidente eleito. A oposição não perdoou a mudança ideológica de Fernando Henrique, autor de livros clássicos de conteúdo marxista, e atribuiu a ele a frase ‘’Esqueçam tudo o que escrevi’’, o que ele sempre negou. Quando Lula subiu ao poder, os tucanos devolveram com a frase ‘’Esqueçam tudo o que disse’’. De certa forma, a radicalização política ficou entre o Esqueçam o que escrevi contra o Esqueçam o que eu disse…
FHC chegou ao poder cavalgando o sucesso do Plano Real, da queda da inflação e de uma conjuntura mundial favorável ao Brasil, cenário que mudaria.Seus assessores diziam que haveria um take off da economia em direção ao Primeiro Mundo. Com a popularidade obtida no governo Itamar, Fernando Henrique venceu com mais da metade dos votos todos os outros candidatos, inclusive o carismático Lula. Mas foram grandes os desafios que se apresentaram ao governo: o controle da inflação proporcionou uma melhoria no poder de compra da população, que passou a entender o que era o preço relativo dos produtos e serviços. Não havia mais a necessidade de sair correndo para o supermercado, nem tinha a sensação de que os preços não iriam subir, nem os produtos sumir das gôndolas, como nos planos anteriores.
O inegável êxito da política econômica se transformou no principal mote da publicidade do governo, que, a cada vez que a oposição aumentava o tom, acusava-a de estar contra o Brasil e não contra o governo. De 1994 a 1998, a inflação caiu 916% para menos de 2% ao ano. A renda média subiu de R$ 715,00 em 1993 para R$930,00 em 1998. E quem nunca tinha comido frango e iogurte pôde enfim se dar a esse luxo.
Só o PIB não decolava no governo tucano: em 1998 foi de zero por cento.Para segurar a inflação, o governo autorizou a importação de alguns produtos, e com mais dinheiro a população entendeu que era o liberou geral. Com isso, o déficit da balança comercial aumentou,o que obrigou o governo a aumentar os juros para atrair capitais especulativos, ou, como se dizia popularmente, capital-motel,de curta permanência. O arrojo no crédito provocou quebradeira em muitas empresas e o índice de desemprego foi parar nas alturas.
Os tucanos tinham um projeto de governo de pelo menos uns 20 anos. O governador de São Paulo, Mário Covas, era candidatíssimo na eleição de 1998. Não Havia reeleição, mas Fernando Henrique e a cúpula tucana deram um jeito. Mudaram a Constituição e instituíram a reeleição. A imprensa divulgou que houve corrupção e que alguns deputados venderam o voto, outros conseguiram barganhar benesses com o governo.
O fato é que pela segunda vez FHC levou logo no 1º turno. Coisa que seu seguidor tentaria, sem sucesso, apesar do enorme carisma entre as classes mais desfavorecidas. Tudo parecia dar certo no governo tucano.
Mas aí vieram as crises internacionais. Foram nada mais, nada menos do que cinco. Nem bem começou o segundo mandato, estourou a crise mexicana, que abalou os mercados e a provocou a retração dos juros e veio a consequente diminuição do crescimento e aumento do desemprego.
Esta foi uma gangorra que o governo não conseguiu derrubar. Mais do que nunca ficou claro que, se o Brasil queria crescer, precisaria se atirar no fluxo mundial de capitais e do comércio, e a contrapartida seria sofrer todas as marolas econômicas, boas ou ruins. A oposição, principalmente o PT, como sempre, aumentou o tom das críticas, acusando FHC de entregar o Brasil ao capital estrangeiro e provocar uma desnacionalização das empresas brasileiras. O grito ‘’ Fora, FMI’’ reunia o PT, setores da Igreja Católica e o Movimento dos Sem-Terra. O MST invadiu propriedades rurais, exigiu uma reforma agrária com a desapropriação de terras e chegou mesmo a invadir uma fazenda do presidente em Minas Gerais e beber todo uísque de sua adega. O confronto entre o PSDB e PFL, de um lado, e o PT e partidos de esquerda, de outro, acendeu o debate ideológico de um projeto nacional e para onde cada um queria levar o país. A esquerda acusava os tucanos de neoliberalismo, e estes retrucavam acusando a esquerda de querer reviver os mitos socialistas derrubados com o Muro de Berlim, em 1989.
Faixa Cronológica período FHC
1997
JANEIRO- é aprovada na Câmara a emenda da reeleição.
MARÇO – a CPI dos Títulos consegue a primeira prova concreta da existência de operações de sonegação fiscal feitas por instituições especializadas no mercado financeiro (escândalo dos precatórios).
ABRIL – é aprovada no Senado a emenda da reeleição para presidente, governadores e prefeitos.
MAIO – o deputado Ronivon Santiago (PFL – AC ) tem conversa gravada, em que afirma ter vendido seu voto a favor da emenda da reeleição ; depois das investigações, ele e outro deputado , João Maia, renunciaram aos mandatos, para evitar a cassação; a Companhia Vale do Rio Doce é leiloada.
JUNHO – o Brasil adere ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, criado em 1968.
JULHO – o Congresso aprova a Lei Geral da Telecomunicações, de privatização da telefonia; são criadas as agências reguladoras (como a Anatel, Aneel, Anac, Ancine).
OUTUBRO – o Brasil é atingido pela crise financeira internacional, que começa na Ásia: a Bovespa fecha com queda de 14,9%.